A árvore cartesiana, os princípios metafísicos e Deus
René Descartes - Autor do "discurso do Método" e das "Meditações Metafísicas"
Matemático, físico e filósofo, autor do “Discurso do Método” e das “Meditações Metafísicas”,
Descartes elaborou um novo método de conhecimento fundado sobre a
razão, a única capaz de permitir ao homem alcançar um conhecimento
perfeito das verdades mais elevadas. O famoso “Cogito ergo sum” (Penso, logo existo!) faz do pensamento o princípio da existência.
Tendo feito seus estudos clássicos com os jesuítas de La Fléche,
Descartes logo se interessou pelas matemáticas como se fossem a causa da
certeza e da evidência de suas razões. O sistema que elaborou é marcado
pelo rigor. No prefácio dos Princípios da Filosofia, ele
define o conhecimento (a Filosofia) semelhante a uma árvore. As raízes
são constituídas pela Metafísica, indicando que todo saber do sistema se
apoia sobre a existência de Deus, considerado como o revelador e
criador das verdades. É, portanto, de Deus que o homem deve deduzir as
regras indispensáveis para compreender o mundo. Nessa perspectiva, a
Física é a aplicação dessa concepção de conhecimento, formando o tronco
da árvore. E, enfim, os galhos são constituídos pelas outras ciências
(Medicina, Mecânica) e a moral, que surgem como os resultados da
pesquisa, sobre a qual o próprio Descartes esboça grandes tratados.
O método cartesiano resultante dessa concepção toma como ponto de partida a solução da “tábula rasa”
que consiste em negar toda existência, todo dado. Mas negar supõe em si
a existência de um pensamento, já que é preciso pensar para negar,
evidenciando, assim, a existência de uma razão. Essa razão é suscetível
de conhecer a verdade, porque Deus existe, ao mesmo tempo tendo criado o
mundo e a ferramenta necessária para conhecê-lo. Essa ferramenta é o
espírito humano.
Mas o homem é falível e para usar corretamente o método é preciso utilizar alguns princípios comuns. São eles:
- Saber que o bom senso é a coisa mais bem partilhada do mundo, como
potência de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso. É a isto que
denominamos bom senso ou Razão e que é igual em todos os homens;
- Necessidade de um método: não é o bastante ter o espírito bom, mas o
principal é aplicá-lo bem. As grandes almas são capazes dos maiores
vícios, bem como das maiores virtudes;
- Probidade intelectual: jamais receber alguma coisa por verdadeira sem
que a tenha conhecido evidentemente, isto é, evitar a precipitação e a
prevenção;
- Lealdade política e moderação: a primeira regra é obedecer às leis e
aos costumes de meu país, observando constantemente a religião na qual
Deus deu ao homem a graça de ser instruído desde a infância, devendo se
autogovernar seguindo as opiniões mais moderadas e distantes dos
excessos;
- Aceitação estoica do mundo: cuidar sempre de superar a si mesmo ao invés de querer mudar os outros;
- Primazia do pensamento e limite do ceticismo: notando que o Cogito
é tão firme e seguro que nenhuma suposição extravagante dos céticos
seria capaz de enfraquecê-lo, deve-se tê-lo pelo primeiro princípio da
Filosofia.
Assim, ao compreender a realidade de forma evidente e, por isso,
racional, pensada, podemos utilizar os princípios do método filosófico a
fim de conservar nossa saúde, gerir melhor os negócios e também nos
tornarmos melhores a nós próprios, afastando-nos da superstição e da
presunção sem que com isso caiamos no ceticismo absoluto. Deus é, em
última instância, a verdade que garante ao sujeito o poder de conhecer.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
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